| Chandler (Mattew Perry), Joey (Mattew Le Blanc), Ross (David Schummicher), Mônica (Courtiney Cox), Phoebe (Lisa Kudrow) e Rachel (Jennifer Aniston) |
A década de 1990 foi palco de uma das mais famosas séries de TV estilo sitcom de todos os tempos: Friends. Sitcom é um estilo de comédia (a palavra é o termo reduzido de situation comedy, “comédia de situação” em uma tradução livre) onde há interação entre um grupo de pessoas, geralmente em uma situação cotidiana, onde o humor é externado através de piadas inteligentes, caretas e trocadilhos. Além disso, quase sempre há uma platéia que assisti as gravações e que serve como uma espécie de “interação através de risadas”. Friends, embora tenha encerrado as gravações originais em 2004, ainda possui grande audiência em suas reprises que são transmitidas diariamente por canais de TV a cabo. A série verdadeiramente foi e permanece a ser um sucesso.
Os fãs não abrem mão dos bordões dos
personagens Chandler, Joey, Ross, Rachel, Mônica e Phoebe, personagens que
marcaram uma geração de jovens, adultos e crianças que viam e vêem neles uma
espécie de referencial, de modelo. Apesar de séries, novelas e filmes no geral construírem,
de um ponto de vista social e estético, estereótipos, Friends pode ser considerada um marco, pois deixou mais que simples
marcas em sua geração, criou ideologias. Analisemos, portanto, algumas dessas
ideologias transmitidas através da série.
De início fazemos menção da ideologia
que propõe ser a juventude e a liberdade a razão da felicidade. Os personagens
são jovens e fazem questão em diversos episódios de ratificar essa juventude.
Há um episódio, por exemplo, em que Rachel (Jeniffer Aniston) se esconde no
quarto na tentativa de fugir da sua festa de aniversário que os amigos
organizaram por ocasião de seu trigésimo aniversário. Essa cena é uma clara
alusão à recusa da passagem do tempo, da passagem da juventude à maturidade,
enfim, da mudança. Como na referida
ideologia, a juventude é um dos pilares da felicidade, por que ela deve passar
então? Além disso, a série, em quase todos os episódios, transmite, de certo
modo, a ideia de que a liberdade é a ausência de limites. Não há limites na
casa para os personagens. Isso pode ser visto nos relacionamentos, na sexualidade,
na interação social, no trabalho. Chegam e saem a qualquer hora um da casa do
outro, desejam uns aos outros, em muitos episódios há claras alusões ao
homossexualismo, à possibilidade de discutir assuntos privados no âmbito coletivo. Esta não
é uma análise moralista da série, mas uma tentativa de aludir aos conceitos
impregnados através das ideologias pregadas pela série. Entender que a
juventude é um dos pilares da felicidade é perigoso, pois ninguém é jovem para
sempre. Se ser feliz é ser jovem, então a felicidade está renegada aos velhos,
aos anciões e todos nós seremos infelizes depois de certo tempo, pois todos
envelheceremos. É de igual modo perigoso entender que liberdade é não ter limite,
não ter regras. Vivemos em sociedade e por isso sempre teremos que cumprir
regras, pois onde termina meu limite estará começando o do outro.
A série também propõe uma espécie de
amizade incondicional entre os seis personagens. A amizade de Friends ignora fatores como: temperamento, situação psicológica e
privacidade. É claro que existem pessoas que têm uma relação de amizade tão
íntima que suas vidas parecem entrar numa dimensão de “tudo em comum”. Mas,
isso é uma regra ou uma exceção? Uma exceção! No plano da realidade, a maioria
das amizades considera sim os fatores enumerados acima, principalmente o que
diz respeito à privacidade. Alguém pode indagar: “Mas é só uma série fictícia,
por que a preocupação?” Bom, de fato a série é fictícia, mas os impactos
ideológicos são bem reais! Muitas
pessoas de frustraram por conta de não conseguirem construir uma amizade “à lá Friends”,
e em virtude disso se consideram incapazes, impotentes. Acreditar que todos podem ser e ter amigos
incondicionais é criar muita expectativa em torno do incerto, do
imprevisível. Em Friends podemos ver um
amigo socando o outro, uma amiga beijando a outra subitamente, sem que isso
implique nenhuma conseqüência efetiva na relação. Será que se socássemos um
amigo, por intimo que seja, nossa relação permaneceria a mesma? Na maioria das vezes não. Mas, por que então
tentar? Não faz sentido. Toda amizade tem limites, tem situações. Nem sempre
haverá um sorriso, uma recíproca, pois cada um de nós nesta vida tem momentos
em que o ânimo está abatido. É normal. Acreditar nesta ideologia é, portanto,
se elevar (ou rebaixar) à dimensão da ilusão, do delírio. A melhor forma de ter
um amigo verdadeiro é respeitar seus limites e construir a amizade com o tempo
e respeito.
Essas duas ideologias acima descritas
são as mais nítidas. Existem outras pregadas ao longo das dez temporadas da
série, mas que acreditamos serem derivadas das duas ora analisadas. Ideologias
marcam uma época, criam estereótipos que passam rápido ou não, que ficam ou vão
embora. Friends deixou a beleza da amizade como possibilidade, como horizonte,
deixou a ideia de juventude fonte de prazeres e paixões, deixou a liberdade com
direito de todos. Embora sejam fatores basicamente importantes, vale a pena uma
recomendação do tipo “beba com moderação”, pois nada é como é para sempre. Um
dia tudo vai mudar, como eles, Friends,
mudaram.
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