terça-feira, 25 de junho de 2013

Brasil: Luz, câmera e ação



É de se supor que até o brasileiro menos informado é capaz de emitir um juízo de valor sobre a situação política do país. E, embora haja pesquisas que demonstrem a popularidade do governante, estes juízos quase sempre são negativos. É simples de entender o porquê: grande maioria das pessoas recebe o impacto da situação decadente da política em nosso país e sofre por isso. Apesar de haver muito pano para manga quando se trata de emitir juízos contra o governo, este texto tem uma proposta um pouco diferente.
Uma boa comparação com o momento atual do Brasil é a de um filme que está sendo gravado. Desconsiderando aqui os inúmeros detalhes técnicos e artísticos presentes em uma gravação cinematográfica, grande parte de nós sabe que a expressão “luz, câmera e ação”, que já se tornou clássica, é um resumo do que é essencial em qualquer produção.
O termo “luz” por si só já vem carregado de múltiplos possíveis significados. Já aqui podemos dizer que, como num filme, o Brasil está passando por um processo de iluminação. Os cenários para a gravação das cenas já estão sendo preparados e esta preparação traz consigo a luz. Os protestos que tomaram as ruas do país nos últimos dias bem podem ser o reflexo de que a luz tem clareado a mente das pessoas. Quando a luz “invade” um ambiente, ela traz consigo a possibilidade de ver os lugares mais remotos dele. Traz também a oportunidade de perceber quem são os habitantes deste ambiente.  É assim que está acontecendo no nosso Brasil: a luz possibilitou aos brasileiros verem quem está alocado comodamente na escuridão e no conforto da “privacidade” da ausência da luz e como está o ambiente outrora tomado pelo breu da falta de normas e leis concretas para seus habitantes. Com os olhos iluminados e mentes atentas, os brasileiros já não querem ficar calados. Perceberam que enquanto eles padecem de insegurança, fome, caos na saúde e falta de educação de qualidade, milhares de pessoas se alimentam às escuras da mais farta mesa, carregando para si toda comida enquanto que milhões de famintos jazem à mesa ou simplesmente “doam” para terceiros sua riqueza que deveria ser empregada na qualidade de vida dos brasileiros. Bom, mas de onde veio a luz que iluminou tantas mentes e olhos? Esta luz não veio a existir agora, ela já existe há bom tempo, apenas ganhou intensidade, teve sua força geradora renovada. A força geradora é a mente esclarecida de milhares ou até milhões de brasileiros que, burlando a tendência à mediocridade existente no nosso país, alimentam suas vidas de verdadeiro patriotismo e senso de justiça no sentindo de despertar outros para a militância pró-educação, pró-saúde, pró-segurança ou seja, pró-Brasil. E, uma vez que todo o cenário está iluminado, o filme já pode ser gravado.
Qualquer gravação só é possível com câmeras. Câmeras são o símbolo mais forte da arte cinematográfica. No grande filme chamado Brasil, elas ainda não estão de todo focadas no ambiente da gravação. Para efeito da nossa reflexão, as câmeras representam a mídia. A mídia, forte formadora de opiniões, em muitos casos se reserva a divulgar os fatos do ponto de vista dos governantes e de seus interesses. Ora, para um bom filme ser gravado, as câmeras devem estar voltadas para os protagonistas e não para os atores figurantes. No Brasil, a TV muitas vezes tem criado uma imagem negativa dos protestos dos brasileiros inconformados, vendendo a ideia de que somos “mal-educados” por não aceitarmos mais as condições atuais da existência social no país. É claro que existem infiltrados nas fileiras dos verdadeiros militantes, os vândalos e os criminosos, embora estes não passem de produto da caótica situação social e política brasileira, ou seja, são efeitos da mesma causa.
As câmeras devem focar o cenário, pois é no cenário que estão os verdadeiros protagonistas e estes são os brasileiros, é o povo. É preciso deixar de gravar, de falar, de reclamar, de chorar, de lamentar os e dos efeitos e focar a causa no sentindo de que o filme não caia no descrédito e perca sua motivação de ser.
Preparado o cenário e focadas a câmeras, só resta agora agir. A ação é uma necessidade de todos, dos protagonistas aos figurantes, das equipes dos bastidores aos roteiristas. A ação é coletiva. De mentes iluminadas e dada a devida atenção ao nosso povo, a chamada agora é para a ação. O povo deve agir no sentindo de não aceitar os discursos sofísticos dos políticos, de não errar elegendo ladrões, de não se corromper vendendo seu voto e de gritar mais e mais até que a voz ensurdecedora da inconformação deixe este país rendido à necessidade de sua verdadeira riqueza: seu povo.
O povo agindo através do conhecimento de seus direitos, será um elemento propulsor para que os demais personagens deste filme ajam. O povo agindo, o governo vai agir. O povo agindo, a justiça vai agir. Entretanto, para que este filme chegue ao fim, não pode faltar luz, senão muitos se esconderão, não pode faltar a gravação, o foco da mídia nos personagens, senão muitos não conhecerão o verdadeiro sentindo do filme, ou simplesmente não o conhecerão e, obviamente, não pode faltar a ação, pois senão teremos não um filme, mas apenas uma fotografia que estará congelada e fadada a nunca mudar de posição. E neste momento o que o Brasil mais precisa é justamente de mudança.



4 comentários:

  1. Muito coerente em suas colocações. Uma verdade conhecida por poucos.

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    1. Obrigado querida psicóloga! devo dizer que no decurso de uma revolução, teoria e prática devem andar juntas!

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  2. Uma boa análise da conjuntura política e social brasileira nesse momento tão conturbado. Análise que falta a muitos "Jornalistas". No entanto, também acredito que essa "Luz", que acabou iluminando a mente dos brasileiros, já era prevista pelo grande geógrafo Milton Santos, na sua obra, Por uma outra globalização 2001. O mesmo falara que, o período tecnológico (globalização) está próximo do fim, e, que estaríamos entrando em um novo período, que ele denominou de período popular ou demográfico da história do homem. Nesse período, a cultura popular, representada pelo países e pessoas pobres, iriam se apropriar dos meios da cultura de massa, representada pelas elites (políticas e sociais) e, países ricos. Os meios pelo qual a cultura popular conseguiria promover sua revolução, seria, apropriando-se das telecomunicações com as redes sociais, técnicas e tecnologias de produção, para fazer sua manifestações e propor uma nova forma de economia mundial, haja vista a economia chinesa. Essa revolução, segundo Milton Santos, eclodiria em vários lugares no mundo, e as elites governantes não iriam conseguir detê-las. Observa-se um paralelo dessa teoria com as revoluções no Mundo Árabe, Europa, movimento ocupa Wall Street e tantas outras, desde o colapso econômico "mundial" de 2008, que já vinha mostrando sinais de fraqueza próximo do fim da década de 1990. E, agora, com essa proposta do plebiscito, buscando levantar alguns pontos para uma possível reforma politica no Brasil, semelhante a revolução bolivariana na Venezuela. Por fim, tudo leva a crer, e eu quero acreditar que sim, que Milton Santos, conseguiu interpretar, brilhantemente, as variantes sociais e políticos da transição do período da globalização para o período popular da história.

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    1. Nobre geógrafo, obrigado pelo comentário. Seu link com o pensamento do pensador Milton Santos é muito pertinente, pois nos esclarece, com uma eloquência apurada, a efetivação de um estado de mudança. Mudar não é mais uma alternativa, é uma necessidade!

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