segunda-feira, 20 de julho de 2015

Série Reflexões do Amanhecer: Uma questão de Escolha

     O dia inicia e traz consigo todas as esperanças e desesperanças ao coração, pois com os olhos voltados para o céu de azul turquesa, ainda dando espaço ao domínio do sol, é possível sentir no peito a expectativa em torno das 24 horas por vir. O trabalhador ergue-se já traçando seu dia, tentando até encontrar algo que não poderia ser previsto; o músico levanta-se lembrando da canção que tem que ensaiar; a mãe, dos filhos que terá que alimentar, cuidar, banhar e proteger; o transeunte, pensa no caminho que vai tomar; o doente, no remédio que vão lhe dar. É assim, todos têm uma expectativa. 
      Contudo, aqui está: nossa expectativa é em torno de uma linha de acontecimentos já repetidos outrora já vivenciados, positiva ou negativamente. O trabalhador tem que ir trabalhar, a mãe, tem que alimentar, cuidar, banhar e proteger, o músico, tem que manusear seu instrumento, o doente tem que se medicar. Esse "tem que", nos limita a liberdade? No dia que não quiser trabalhar, alimentar, cuidar, banhar, proteger, tocar instrumento e se medicar, serei compreendido que a negação foi apenas um ato de minha liberdade individual que me permite atender expectativas diferentes? Certamente que não! Somos livres, mas escravos, somos únicos, mas conjugados a outros, e nossas vontades tantas vezes não podem ser postas em prática pura e simplesmente! 
      A expressão "somos livres e escravos" parece cair na malha fina da regra da não-contradição da lógica de Aristóteles. Como ser livre e escravo ao mesmo tempo, visto serem posições opostas? Na verdade somos livres para fazer, mas escravos de cada reação em cadeia da nossa escolha. O trabalhador é livre para não ir trabalhar, mas será escravo da decisão alheia de ser demitido, a mãe pode não cuidar de seu filho, mas será escrava das implicações éticas dessa atitude, o músico pode não ensaiar, mas será escravo do esquecimento alheio e ainda o doente pode não se medicar, mas será escravo das implicações dessa atitude em sua saúde, ou simplesmente morrerá. 
         Como viver assim? Outra questão de escolha. Há quem viva bem assim; há quem não queira viver mais; há quem simplesmente tenta criar suas expectativas em torno de circunstâncias mais incertas, o que dá uma roupagem de ineditismo em cada um de seus dias, ou há ainda que simplesmente escreve um texto para tentar mostrar para a ordem dos fatos, a previsibilidade, que está de olhos neles e que, mesmo assim, é senhor de sua vida, ou não.

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