Neste texto de caráter reflexivo, me proponho a refletir sobre um tema que está em alta: a hipocrisia. Embora seja uma palavra do cotidiano, existem muitas pessoas que não sabem seu real significado. Por isso, apresento o significado da palavra de acordo com um dos melhores dicionários:
a) Pessoa que finge sentir o que não sente; quem demonstra uma opinião que não possui ou dissimula qualidades que não têm; fingido. b) se comporta com hipocrisia; que esconde seus reais sentimentos, intenções, opiniões; falso. c) Que demonstra uma virtude ou qualidade que não possui.¹
A definição, muito clara, não deixa dúvida sobre a postura de um hipócrita. Não é preciso ser especialista para entender e identificar tal postura nas pessoas das quais conhecemos a história e o modo de viver. Contudo, esta análise vai além. Se propõe a identificar a hipocrisia nas ações coletivas de milhões de brasileiros que aparentam estar em sintonia com a razão e a política, mas estão apenas na medida em que isso não lhes afeta diretamente. A partir daqui o hipócrita será apenas "ele" e o texto será divido em tópicos. Vejamos.
1) Ele é a favor da pena de morte, mas apenas quando o digno da pena não for alguém de sua família, pois se for, o discurso muda e, em caso de ser rico, os melhores advogados entram em ação; os outros devem morrer, mas não seu filho, pois outros tinham a intenção de cometer crimes, mas seu filho apenas foi induzido pelas circunstâncias. Seria justo proceder com alguém assim?
2) Ele não concorda com a censura e é a favor da plena liberdade de expressão, até que alguém contrarie seu pensamento. Se assim alguém o fizer, ele diz que não precisa de sua opinião. Ele afirma que o outro é "burro" ou simplesmente rejeita o direito do outro se expressar se este pensar de modo diferente. Em tese, a liberdade de expressão deve ser garantida para ele e um punhado de pessoas que considere inteligentes, mas não para todos, pois nem todos têm a capacidade de pensar e se expressar. O hipócrita pensa assim e não consegue perceber a contradição de seu pensamento.
3) Ele odeia corrupção, desonestidade e se orgulha publicamente de sua aparente vida ilibada, até que o policial rodoviário o puna com uma multa por estacionar em local proibido ou por estar sem cinto de segurança. Se isto ocorre, um agrado é oferecido ao agente público e independente da postura deste em relação a oferta, o cidadão dito honesto não consegue ver a contradição dos seus atos. Para ele o policial seria corrupto se aceitasse, mas ele não se ver como corrupto por ter oferecido.
4) Ele não tem nada contra homossexuais, jamais se achou homofóbico, até que seu filho ou filha revele que é gay. Quando isso ocorre, sua reação revela a incoerência de seus atos. Rejeita o filho, põe ele ou ela para fora de casa e se autocensura com pensamentos do tipo: "onde foi que eu errei?", "logo comigo?". Ele não tem nada contra gays, mas ter um por perto é o fim do mundo.
5) É defensor da família como núcleo social, é conservador e diz que o Estado se esforça para fragmentar esta instituição, mas não abre mão do caso que tem com a mulher de um amigo. Jamais perdoaria a traição de sua esposa, mas trai ela sempre que pode e não o faz com peso de consciência, pois diz que agir assim "é natural do homem". A família dele deve ser "estruturada", mas a do outro pouco importa!
6) Se orgulha de ser religioso e diz que difunde a caridade, até o ponto que isso não custe esforço maior. Enquanto não for caro ajudar o outro, ele o faz de bom grado. Compra até cestas básicas no natal, uma boa ação, mas quase sempre supersticiosa. Ajuda o pobre, não por que se preocupa com ele, mas por que quer que DEUS "abençoe" seu negócio no ano seguinte.
Muitos outros exemplos são possíveis, mas neste momento faço as seguintes indagações: até onde somos capazes de ir por aquilo que realmente acreditamos? Por que parece tão difícil ajustar o que dizemos com o que fazemos? Por que é tão fácil ser hipócrita e difícil perceber isso? Não, não tenho respostas prontas para isso, mas sou, no que se refere ao alinhamento entre acreditar e viver o que se acredita, levado a lembrar de Sócrates (470 - 399 a.C.), o filósofo. Foi soldado e senador, dedicou a velhice ao pensamento, conversou com ricos e pobres, intelectuais e pessoas simples, aplicou no dia a dia o que acreditava, ajudou os outros a partejarem ideias enquanto ele mesmo se conhecia num processo de auto interpretação. Como resultado desta prática, foi condenado por crimes que não cometeu. Como seu discípulo Platão (428-348 a.C.) conta no livro Apologia de Sócrates, seu mestre poderia ter fugido, mas não o fez. Preferiu morrer defendendo o valor universal das leis, que viver o restante de sua velhice mergulhado no calabouço da incerteza e do remorso, pois qual o homem honrado que na hora que sua honradez é provada rejeita tudo para não morrer? Como ele mesmo diz:
"A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente consiste em sermos, na realidade, aquilo que parecemos ser”. ²
¹ Dicionário Aurélio Online: https://www.dicio.com.br/hipocrita/
² Frase de Sócrates, registrada na Apologia de Sócrates, obra de autoria de Platão, seu discípulo.
Autor: Líniker Santana

Perfeito! O artigo e reflexão nos rever sobre quando achamos que só outras pessoas agem com hipocrisia.
ResponderExcluirParabéns, pelo ótimo texto que o senhor fez que continue assim e aprendi bastante...
ResponderExcluirMuito bom Mestre Liniker.
ResponderExcluirExcelente reflexão, professor.
ResponderExcluirExcelente caro amigo!.
ResponderExcluirFantástico ilustríssimo Filósofo
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