segunda-feira, 25 de junho de 2018

Para quê serve a Filosofia?

 
Na condição de professor de filosofia, sinto-me muitas vezes impelido a apresentar a razão por que minha disciplina está presente no currículo escolar do ensino médio. Isso, na  maioria das vezes é desgastante, pois, diga-se, é uma tentativa de convencer alguém de algo que está posto em sua mente simplesmente como inútil, banal ou desnecessário.

Por que será que há este entendimento de que a filosofia é inútil em sua essência? Bom, eu diria que a razão principal é a propagação de que as atividades contemplativas são dispensáveis nesta sociedade dinâmica e apressada em que vivemos. Meia verdade. É fato que vivemos em uma sociedade dinâmica e apressada, que requer respostas rápidas sobre pontos cruciais do dia-a-dia, entre eles política, ética, moral e outros, mas, por outro lado, deve-se entender que embora a sociedade seja acelerada em sua essência, contemplar ainda é uma atividade importante, pois possibilita o pensador (aquele que contempla) olhar o mundo, isso inclui a tal sociedade acelerada, de maneira mais crítica e desprovida de subsídios míticos.

Um outro motivo que sustenta a afirmativa da inutilidade da filosofia é que esta não será usada no futuro profissional do estudante. Como não? Ela está presente na vida profissional das pessoas tanto quanto outras ciências, como a matemática e a física, por exemplo, e em alguns casos sua presença é até mais intensa. Uma reflexão apurada sobre um assunto discutido em uma reunião da empresa, a argumentação em uma tentativa de vender um produto, a análise da essência de um problema que surge na vida, isso e mais outras coisas podem ser entendidas como atividades filosóficas essenciais. Entender que a filosofia é inútil é puro senso comum, é olhar de maneira simplista para algo que fundamenta mais de dois milênios de atividade e produção. Deve-se lembrar que muitas das ciências que conhecemos e classificamos como “úteis”, são braços da filosofia que se tornaram independentes.

Mas, o que fazer então? Acredito que mudar esta perspectiva não é fácil, pois ela foi construída ao longo da formação intelectual de nosso país que, diga-se de passagem, não contemplou a reflexão filosófica como prioridade. Claro, há as notórias exceções. Nós, os profissionais de filosofia (por que não filósofos?) devemos continuar aprimorando nossa capacidade de clarificar os conceitos e desconstruir o senso comum que nutre nossos alunos e até outros professores que ministram outras ciências. Cada um use seu recurso, de acordo com sua realidade. Há quem utilizando um discurso rebuscado e polido, convença seus pares. Há quem  aliando filosofia e outras áreas do conhecimento a esclareça mais. Há quem procure respostas nos filósofos clássicos e/ou nos modernos. Enfim, cada um haverá de descobrir como podem combater este senso comum que eu poderia, com o perdão do neologismo, chamar de “mau-senso”. Não é tarefa fácil, mas eu continuo tentando.

2 comentários:

  1. Bela reflexão se ocidente está preso a utilidade e não enxerga nada mais além disso, essa reflexão diz aquilo que os ultilitaritas não consegue perceber a capacidade da Filosofia está presente na vida, no cotidiano de todos, mesmo sem ser perceptível a todos. Parabéns.

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    1. Pois é meu nobre amigo matemático. Essa visão comum de muitos, inclusive intelectuais, empobrece a difusão de um saber mais substancialmente seguro e existencial.

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