O sonho de ser professor diluído da
dificuldade de sê-lo
Em um determinado dia deste ano, o dirigente
da Escola Bíblica Dominical da igreja que frequento me convidou para ser
professor. Quando ele me chamou e relatou o teor do convite, me senti muito
honrado e até pensei: “Será que ele deseja que eu seja professor mesmo?” O
entusiasmo tomou conta de mim e eu logo procurei divulgar como me tornei
“importante” por ter sido convocado à docência da Escola Bíblica.
“Terei vários alunos me esperando, irei
chegar e todos eles estarão ansiosos pelo conteúdo que irei ministrar! Que
ótimo, será muito interessante!” – era assim que eu pensava dia e noite
enquanto não chegava o dia da minha estréia. A minha primeira aula estava
marcada para a semana seguinte e eu, é claro, não podia esperar com maior
ansiedade por aquele momento. Na verdade era tudo muito novo para mim: eu nunca
havia sido professor, nem mesmo tinha ido muitas vezes à escola dominical do bairro em
que morava. Expectativas, portanto, me seguiam.
Chegou então aquele domingo. Era nove horas
da manhã, domingo nublado, igreja vazia. Pensei: “Cheguei cedo demais? O
superintendente se esqueceu de me falar a hora exata da EBD por aqui.” Contudo
considerei e dobrei os meus joelhos para orar. Orei com algumas palavras vazias
– na verdade não conseguia conter a minha pré-decepção, pois o relógio já
marcava nove e vinte – e logo em seguida procurei me distrair lendo as
propagandas da minha Lição Bíblica
novinha que eu havia mandado encadernar.
Passaram-se mais 20 minutos e alguns poucos
alunos tinham chegado e cochichavam uns com os outros assuntos certamente
alheios à escola dominical. Pouquíssimas crianças haviam chegado, o que me
levou a ficar surpreso, pois sempre acreditei que o carro-chefe da escola eram
as crianças. Tudo bem. Era muito precipitado de minha parte emitir um juízo de
valor naquele momento, afinal de contas era só uma aula, e bem poderia aquela
situação de atraso ser um a exceção. Passaram-se mais 20 minutos – o meu
relógio já marcava dez horas – quando percebi que muitos irmãos chegaram,
lotando até algumas salas; reanimei-me um pouco, sobretudo por que na minha
classe, à qual assumia naquele momento, pude perceber que estavam presentes
treze alunos. “Agora sim! Irei dá a minha super-aula e encantar estes alunos!”
E comecei a ensinar.
Palavra vai, palavra vem, e
meus alunos nada me perguntavam sobre o conteúdo que eu estava ministrando. A
minha frustração, outrora já iniciada com a questão do atraso, aumentou ao
ponto de desarticular o meu raciocínio e anular todo o meu prazer em estar ali.
Eu era um monólogo que se fez tal de forma forçada. Simplesmente meus alunos
não “estavam” ali. Tentei, entretanto, controlar a minha frustração e utilizei
um golpe de mestre para isso: parei de ministrar a aula e disse aos alunos que
iríamos, a partir daquele momento, debater os assuntos das aulas anteriores e o
formato para este tal debate seria o já habitual homens versus mulheres. Até se animaram, não por que se tratava de algo
útil para as suas vidas, pois iriam discutir assuntos pertinentes à bíblia
sagrada, mas por que eu prometi uma caixa de bombom para a equipe vencedora.
Funcionou. Riram, discutiram superficialmente os assuntos das aulas anteriores
(assuntos que foram ensinados pelo professor anterior que aproveitou a virada
de trimestre para se “livrar” da classe, pois não suportava mais tanta ignorância,
pois era uma pessoa muito culta) e em seguida, logo que o superintendente
assumiu a tribuna para construir o comentário final, voltaram a conversar sobre
seriados de TV, roupas, video-game e outras coisas que não têm nada a ver com
EBD. E acabou a aula.
O meu sonho foi diluído
naquela experiência. Voltei para casa decepcionado e sequer pretendia comer o
saboroso almoço que minha esposa havia preparado. Simplesmente estava
angustiado. Esta foi a minha primeira experiência.
A convicção do professor como
combustível para a sua permanência
Diante da amarga
experiência do último domingo, pude perceber que, na verdade, a minha vaidade
tem grande peso nisso tudo e que não posso negligenciar este fato. Tenho
convicções. Convicções grandes de que sou professor e não apenas estou professor. A minha vaidade,
contudo, me fez esquecer isto e confundir estes pontos que são diferentes. Fiz,
portanto, uma reavaliação da minha postura e resolvi continuar ensinando, mesmo
extremamente tentado a abandonar aqueles limitadíssimos alunos.
Chegou o domingo e
ministrei a minha aula. Aconteceu tudo novamente. Estavam “ausentes”, e pior
que isso, os treze alunos da aula passada eram apenas nove agora, pois descobri
que quatro deles eram irmãos e se mudaram para outro bairro naquela semana.
Frustrei-me, mas a intensidade da decepção foi bem menor, pois estava menos
despreparado que na aula anterior. Orei então: “Deus, nunca fui professor
antes, mas sempre sonhei em sê-lo. Permite-me permanecer aqui e conseguir
influenciar estes meus alunos, pois sou eu quem está sendo influenciado por
eles”. Saí de mais um domingo de escola bíblica decepcionado, porém desta vez
convicto que Deus iria me ajudar.
Oração, preparação e
criatividade: fórmulas certas para uma boa docência
Antes de ser professor eu
orava cerca de uma hora por dia, agora oro duas. Dobrei meu rendimento de
joelhos por um simples motivo: tinha um desafio muito grande diante de mim.
Para mim o ato de orar naquele contexto de desafio era tão importante como o
ato de conquistar as pessoas no contexto de um gerente que assume uma loja e
chega com o desafio de reverter a situação avassaladora de crise e desespero.
Estava certo disso: o primeiro passo para meu sucesso enquanto professor era
orar e me despir das minhas vaidades, entre elas a de achar que sou bom e
culto, portanto digno de celebração. Não simplesmente orei, construí o hábito e
ele me levará a uma proximidade maior do senhor, por que está escrito em
Provérbios: “eu amo os que me amam e os que de madrugada me procuram me
acharão”.
Também procurei estudar com
mais intensidade a lição, pesquisar em diversas fontes assuntos aplicativos,
entender cada parágrafo da revista e, além de tudo isso, evitar ser redundante
e cansativo em minhas explicitações. Isto é, não me limitava a reproduzir o que
o comentarista colocava nas lições, mas caminhava além, despertando nos alunos
o interesse pelo assunto que abordava. Percebi que esse avanço era conseqüência
do casamento de dois fatores primordiais: oração e preparação.
Um terceiro fator também se
encaixou nesta relação: criatividade. Orando, estudando e criando, tive a
oportunidade de perceber o avanço da minha sala, o aprofundamento nas questões
e a substituição de perguntas como: “Quem era o pai de Davi?” por perguntas
críticas como: “Qual a contribuição política de Davi no cenário israelita no período
pré-cativeiro?” (ressalto que toda pergunta é importante, mas com o
amadurecimento intelectual de uma equipe, verifica-se a evolução na capacidade
de indagar, pois um a pergunta crítica gera debate e participação do grupo).
Como se deu tudo isso? De
forma pacífica? Progressivo crescimento quantitativo da classe? Não. Confesso
que ficava decepcionado cada vez que dava uma aula menos saborosa e ficava
ansioso sempre que era bem sucedido. Com isso aprendi uma coisa: emoção e
atuação não se distanciam. Como ensinar sem se importar com o que os alunos
pensam, acreditam ou sabem? Criar é
recriar, é ver por um novo ângulo aquilo que já está ali. Eu fiz isso. Não
trouxe alguém de Harvad, não comprei computadores, não levei-os a brincar de
pintura na sala. O que fiz? Criei a atmosfera de troca. Disse para eles que não sei de tudo, mas que tudo que eu
sabia estava à disposição, que não havia cartas nas mangas e que cada um deles
pode ser portador de uma opinião interessante e verdadeiramente útil para a equipe.
De mim para você
Caro professor, aprendi
muito com os meus erros e ainda erro muito, mas tenho algo útil para lhe
transmitir. Na verdade são pontos que, se praticados, poderão te ajudar da tua
docência:
1. Dispa-se da arrogância e do sentimento de superioridade
gerado com o cargo de docente e ore se entregando ao Senhor;
2. Estude o máximo que você puder para ministrar a sua aula;
3. Entenda que os seus alunos não são obrigados a estar ali,
portanto, você deve mantê-los interessados;
4. Não exagere nas histórias pessoais que você conta na aula,
os alunos podem não estar interessados com o que aconteceu com você;
5. Olhe nos olhos dos alunos;
6. Use uma linguagem leve, porém correta (não extrapole nas
gírias e não seja tão erudito, afinal de contas são pessoas simples que você
está ensinando);
7. Seja pontual, pois quando o aluno chega primeiro que você
ela se decepciona com o professor e, conseqüentemente, com a escola;
8. Não falte por qualquer motivo;
9. Converse com os alunos como igual, nada de incorporar uma
linguagem polida só para aquele momento, quando em outras situações você fala
com pouca ou nenhuma erudição;
10. Obedeça a liderança da igreja, os alunos só lhe respeitarão
se for exemplo.

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