Rio Largo, largos
problemas
Nos primeiros dias deste ano acompanhamos o drama
causado pela ausência do serviço de coleta de lixo que deixou Rio Largo com ar
fétido e semelhante a lugarejos pós-guerras onde impera a desordem e
putrefação. A grande maioria da população, atingida drasticamente pela desordem
causada pela ausência da coleta, pôde perceber este desmando como reflexo da
situação caótica em que se encontra a cidade em seu âmbito político, o que se
alastra nitidamente para outras áreas da municipalidade.
Embora haja muito o se que falar sobre este
momento político da cidade, desejo descrever e denunciar outros problemas que
afetam Rio Largo, problemas que não podem ser ignorados sob afirmação de que
são culturais. Basta um olhar mais atencioso à cidade, semelhante ao olhar do
rapaz que corteja uma moça, e perceber o quanto estamos envoltos de desordem.
O primeiro problema que sinalizo é a ausência da
auto-afirmação do povo. Se a reputação da cidade é das piores no cenário
estadual e até nacional, ela ganha estímulo por que os próprios rio-larguenses acreditam
que sua cidade “não presta”. Não poucas vezes ouvi em ambientes públicos da
cidade, coletivos, trens, igrejas, as afirmações como “Rio Largo não tem
jeito”, “Rio Largo não presta”, “Esta cidade não tem ordem”, “Aqui é o fim do
fundo”, “Aqui é uma bagunça”, “Essa cidade está uma ‘esculhambação’
(regionalismo que significa sem ordem, bagunçada, fora do lugar)”. É claro que
não sou ingênuo ao ponto de pensar que o fato isolado de um cidadão “se
auto-afirmar” mudará a realidade de uma cidade. Acredito, porém, que a
identidade de um povo deve incluir o amor-próprio e o desejo de superar as
crises existentes. O início de uma mudança nasce justamente do fortalecimento
deste amor-próprio que leva o povo a tomar uma atitude em favor de sua cidade,
estado ou nação. Sem este sentimento auto-apreciativo, uma cidade em crise
nunca se recuperará, sempre ficará à margem da ordem de crise em crise.
O segundo problema que denuncio é conseqüência do
primeiro: falta de zelo pelo patrimônio da cidade. Como um povo sem
amor-próprio zelaria pelo patrimônio da cidade? Um passeio rápido nos
principais bairros confirma esta minha denuncia. Rio Largo está sucateado.
Praças sem bancos, grama maltratada, placas de trânsito desbotadas, amassadas
ou simplesmente inexistentes, trânsito desorganizado, muros pichados, árvores
quase mortas nas praças, postes às escuras, calçamento empoeirado, quando não
esburacados ou desnivelados, restos de anúncios políticos e comerciais nas
paredes dos prédios públicos, etc. Isso é só um aperitivo do que é possível ver
nas ruas da cidade de Rio Largo. Qualquer pessoa poderia me dizer que tudo isso
que descrevi é assim por que o governo municipal não trabalha para melhorar.
Claro que isso é verdade. Mas existe outra verdade que deve ser dita: nós os
cidadãos somos responsáveis pelo patrimônio da cidade também. Quebrar um orelhão, pichar um banco de praça
ou qualquer outra coisa é atitude de alguém que não tem compromisso nenhum com
a ordem na cidade. A melhoria do bem-estar social de um povo inclui sua
conscientização a respeito da necessidade de preservar o bem público, de cuidar
do que é coletivo, pois na condição de cidadão, aquele bem coletivo também lhe
pertence. As pessoas que roubaram algumas letras de metal do letreiro que dá
nome ao viaduto na entrada da cidade certamente não têm o mínimo de desejo que
Rio Largo melhore!
Um terceiro e último problema eu quero denunciar.
Vale salientar que falo último não por que não existem outros problemas além
destes, mas por que é o último que denunciarei neste artigo. É o problema da falta
de consciência histórica. Toda cidade tem uma história, e esta história é sua
identidade. Ela inclui cenários municipais que estão ligados a acontecimentos
inesquecíveis. Creio que se derrubássemos os prédios envelhecidos das antigas
fábricas têxteis teríamos um prejuízo histórico sem tamanho. Isso vale para as
estações de trem da cidade. Imagine se destruíssem o prédio centenário da
estação de Lourenço de Albuquerque. Certamente com os escombros da estação
morreria as memórias de várias gerações que viram o trem por ali passar. Isso é
verdade, mesmo que a destruição seja em nome do progresso. Valorizar a história
é importante para qualquer povo. Mas a ideia de valorização da história cria
outra situação: como valorizar a história sem conhecer a história? Impossível.
Os rio-larguenses precisam conhecer sua história! É imprescindível que um povo
conheça sua origem. As escolas municipais devem incluir em seus calendários uma
abordagem substancial da história da cidade, o que inclui a história da
bandeira e o conhecimento das razões pelas quais nossa cidade se chama Rio
Largo. Certamente parcela considerável da população desconhece que Rio Largo já
foi povoado da cidade de Santa Luzia do Norte e que seu nome é assim em virtude
de que nesse ponto, o Rio Mundaú tem maior largura.
Seria pretensão considerar fáceis resolver tais
problemas, porém intitulá-los de impossíveis é incabível. Como puderam ler, os
três problemas que sinalizei são de ordem cultural, no entanto, o fato de serem
de ordem cultural não é a razão por que são problemas. A melhora virá quando
vir a mudança. Quando cada um de nós, cidadãos, perceber que é parte da cidade,
da democracia, saberá que os problemas não são apenas dos políticos, os
problemas também são nossos, por isso de nós também deve vir a solução.

Concordo com você, o povo de Rio Largo hoje sofre as consequencia de suas escolhas erradas. Acredito também que cabe a essa nova geração lutar pela mudança do nosso município.
ResponderExcluirParabéns!
Sim, a mudança de Rio Largo (para melhor, é claro!), não virá de políticos pretensiosos, mas do povo, na medida em que este seja despertado mediante o conhecimento. Alguém pode indagar: "conhecimento de quê"? Ora, conhecimento da sua importância, de seu poder e de sua capacidade de mudança simplesmente dizendo: "Basta, não quero mais assim"!
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