quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Rio Largo, largos problemas


Rio Largo, largos problemas


    Nos primeiros dias deste ano acompanhamos o drama causado pela ausência do serviço de coleta de lixo que deixou Rio Largo com ar fétido e semelhante a lugarejos pós-guerras onde impera a desordem e putrefação. A grande maioria da população, atingida drasticamente pela desordem causada pela ausência da coleta, pôde perceber este desmando como reflexo da situação caótica em que se encontra a cidade em seu âmbito político, o que se alastra nitidamente para outras áreas da municipalidade.
Embora haja muito o se que falar sobre este momento político da cidade, desejo descrever e denunciar outros problemas que afetam Rio Largo, problemas que não podem ser ignorados sob afirmação de que são culturais. Basta um olhar mais atencioso à cidade, semelhante ao olhar do rapaz que corteja uma moça, e perceber o quanto estamos envoltos de desordem.
O primeiro problema que sinalizo é a ausência da auto-afirmação do povo. Se a reputação da cidade é das piores no cenário estadual e até nacional, ela ganha estímulo por que os próprios rio-larguenses acreditam que sua cidade “não presta”. Não poucas vezes ouvi em ambientes públicos da cidade, coletivos, trens, igrejas, as afirmações como “Rio Largo não tem jeito”, “Rio Largo não presta”, “Esta cidade não tem ordem”, “Aqui é o fim do fundo”, “Aqui é uma bagunça”, “Essa cidade está uma ‘esculhambação’ (regionalismo que significa sem ordem, bagunçada, fora do lugar)”. É claro que não sou ingênuo ao ponto de pensar que o fato isolado de um cidadão “se auto-afirmar” mudará a realidade de uma cidade. Acredito, porém, que a identidade de um povo deve incluir o amor-próprio e o desejo de superar as crises existentes. O início de uma mudança nasce justamente do fortalecimento deste amor-próprio que leva o povo a tomar uma atitude em favor de sua cidade, estado ou nação. Sem este sentimento auto-apreciativo, uma cidade em crise nunca se recuperará, sempre ficará à margem da ordem de crise em crise.
O segundo problema que denuncio é conseqüência do primeiro: falta de zelo pelo patrimônio da cidade. Como um povo sem amor-próprio zelaria pelo patrimônio da cidade? Um passeio rápido nos principais bairros confirma esta minha denuncia. Rio Largo está sucateado. Praças sem bancos, grama maltratada, placas de trânsito desbotadas, amassadas ou simplesmente inexistentes, trânsito desorganizado, muros pichados, árvores quase mortas nas praças, postes às escuras, calçamento empoeirado, quando não esburacados ou desnivelados, restos de anúncios políticos e comerciais nas paredes dos prédios públicos, etc. Isso é só um aperitivo do que é possível ver nas ruas da cidade de Rio Largo. Qualquer pessoa poderia me dizer que tudo isso que descrevi é assim por que o governo municipal não trabalha para melhorar. Claro que isso é verdade. Mas existe outra verdade que deve ser dita: nós os cidadãos somos responsáveis pelo patrimônio da cidade também.  Quebrar um orelhão, pichar um banco de praça ou qualquer outra coisa é atitude de alguém que não tem compromisso nenhum com a ordem na cidade. A melhoria do bem-estar social de um povo inclui sua conscientização a respeito da necessidade de preservar o bem público, de cuidar do que é coletivo, pois na condição de cidadão, aquele bem coletivo também lhe pertence. As pessoas que roubaram algumas letras de metal do letreiro que dá nome ao viaduto na entrada da cidade certamente não têm o mínimo de desejo que Rio Largo melhore!
Um terceiro e último problema eu quero denunciar. Vale salientar que falo último não por que não existem outros problemas além destes, mas por que é o último que denunciarei neste artigo. É o problema da falta de consciência histórica. Toda cidade tem uma história, e esta história é sua identidade. Ela inclui cenários municipais que estão ligados a acontecimentos inesquecíveis. Creio que se derrubássemos os prédios envelhecidos das antigas fábricas têxteis teríamos um prejuízo histórico sem tamanho. Isso vale para as estações de trem da cidade. Imagine se destruíssem o prédio centenário da estação de Lourenço de Albuquerque. Certamente com os escombros da estação morreria as memórias de várias gerações que viram o trem por ali passar. Isso é verdade, mesmo que a destruição seja em nome do progresso. Valorizar a história é importante para qualquer povo. Mas a ideia de valorização da história cria outra situação: como valorizar a história sem conhecer a história? Impossível. Os rio-larguenses precisam conhecer sua história! É imprescindível que um povo conheça sua origem. As escolas municipais devem incluir em seus calendários uma abordagem substancial da história da cidade, o que inclui a história da bandeira e o conhecimento das razões pelas quais nossa cidade se chama Rio Largo. Certamente parcela considerável da população desconhece que Rio Largo já foi povoado da cidade de Santa Luzia do Norte e que seu nome é assim em virtude de que nesse ponto, o Rio Mundaú tem maior largura.
Seria pretensão considerar fáceis resolver tais problemas, porém intitulá-los de impossíveis é incabível. Como puderam ler, os três problemas que sinalizei são de ordem cultural, no entanto, o fato de serem de ordem cultural não é a razão por que são problemas. A melhora virá quando vir a mudança. Quando cada um de nós, cidadãos, perceber que é parte da cidade, da democracia, saberá que os problemas não são apenas dos políticos, os problemas também são nossos, por isso de nós também deve vir a solução.

2 comentários:

  1. Concordo com você, o povo de Rio Largo hoje sofre as consequencia de suas escolhas erradas. Acredito também que cabe a essa nova geração lutar pela mudança do nosso município.
    Parabéns!

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  2. Sim, a mudança de Rio Largo (para melhor, é claro!), não virá de políticos pretensiosos, mas do povo, na medida em que este seja despertado mediante o conhecimento. Alguém pode indagar: "conhecimento de quê"? Ora, conhecimento da sua importância, de seu poder e de sua capacidade de mudança simplesmente dizendo: "Basta, não quero mais assim"!

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