segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Morrer Duas Vezes

     Aqui mesmo neste blog publiquei um texto que trata do desvalor da vida humana nos dias em que vivemos. Questionei de maneira breve, mas incisiva, a postura indiferente da sociedade quanto ao número crescente de violência e desrespeito à vida. Agora, cheio do mesmo sentimento de desconforto, revolta, medo, tensão, ira, decepção, que eu tinha ao escrever o texto que citei, quero escrever este intitulado "Morrer Duas Vezes".
   Devo dizer que já não basta matar, é preciso ser cruel. A crueldade humana tem superado as expectativas até nos mais pessimistas. Os índices altos de criminalidade que deixam a sociedade presa em suas casas, a fragilidade da segurança pública e da Justiça Brasileira (ainda tive o respeito de escrever com as iniciais maiúsculas) que produzem nos criminosos a certeza da impunidade já não são suficientes para satisfazê-los. Como já disse, é preciso ser cruel.
  Lendo uma reportagem dentre tantas que mostram a violência nas nossas cidades, uma em particular, me despertou mais dor e repugnância. Os limites do absurdo foram rompidos! Matar uma mãe de família por que SUSPEITAVAM que ela, por trabalhar na casa de um policial do BOPE, havia informado quem eram os chefes do tráfico em seu bairro não foi suficiente para estes criminosos. Quiseram deixar uma mensagem reforçando seu poder: arrancaram a cabeça da mulher e um dos braços, além de escreverem na parede a palavra "cabueta" com o seu sangue.
     "Ela morreu duas vezes", palavra de seu esposo. Mas, por quê? Tiraram-lhe a vida e junto com ela sua dignidade. Tiraram o direito do marido lembrar da esposa sem ser aterrorizado pela imagem da mesma decapitada, parcialmente esquartejada. Tiraram sua vida e, implacavelmente, seu direito de ser vista pela última vez talvez por uma dezena de parentes ou amigos que queriam dá-lhe um adeus. Tirarem-lhe tudo que podia ser tirado.
      Fica a reflexão: Quanto vale uma vida? 

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