terça-feira, 26 de janeiro de 2016

PEDRO E LISARB - UMA CRÍTICA VELADA

Um país dos sonhos...
São seis da manhã, a temperatura suave da madrugada já dá lugar ao calor da manhã. Os pássaros fazem a canção matinal ser de grande prazer aos ouvidos de Pedro Santos, um típico cidadão trabalhador. Ele levanta-se as seis, pois precisa se preparar para o trabalho. Levantar-se não é tarefa difícil, uma vez que no dia anterior deita-se cedo e satisfeito em ter aproveitado bem o dia.
 Pedro mora em um bairro distante do local onde trabalha, mas isso não lhe é um peso, uma desvantagem. Quando deixa sua casa, as seis e quarenta, caminha pouco mais de cinquenta metros e chega à estação, na qual espera o metrô que passa às sete horas, sem atrasos. Quando entra no seu vagão preferido, encontra muitas cadeiras disponíveis, com limpeza e preservação inquestionáveis. Uma voz soa dos alto-falantes com um misto de clareza e suavidade informando o nome e a previsão de chegada à próxima estação. Pedro tem tempo de ler a edição do dia do jornal mais popular da cidade, pois existem vários exemplares espalhados pelos vagões que podem ser compartilhados pelos passageiros.
Às sete e vinte Pedro chega na empresa onde trabalha e é recebido com um bom dia caloroso acompanhado de uma boa notícia: o Sindicato da categoria conseguiu negociar com os empresários do setor um aumento salarial de 15%  para todos os trabalhadores e que este aumento já será percebido no próximo pagamento salarial. Todos comemoram. Passado o expediente, o moço é liberado e volta para sua casa. Vai para a estação e pega o metrô pontualmente às dezessete horas, onde vem sentado, tranquilo e confortável.
Quando chega em casa, Pedro recebe a informação que sua irmã mais nova passou mal e foi socorrida às pressas para o Hospital.  Junto com a notícia, porém, veio o conforto: quando ligaram para o serviço de socorro, em três minutos a ambulância chegou e levou a criança para o Hospital, no qual foi atendida com toda atenção e dedicação necessários. Não tiveram dificuldade de ligar para o socorro, pois o sinal de telefonia é ótimo e barato e, além disso, o serviço de atendimento de telefonemas das empresas públicas e privadas é muito eficiente. A criança ficou bem.
A namorada de Pedro estuda na Escola Estadual Caminhando para o Futuro, no mesmo bairro onde ele mora. Ela vive dizendo que se orgulha de estudar lá. Está no último ano do ensino médio, e se orgulha de falar inglês num nível razoável e sempre fala da dedicação de seus professores. Comenta que em sua sala só tem vinte alunos e diz que em toda escola é assim. Pedro ficou curioso e foi constatar: a escola é maravilhosamente limpa, funcionários o suficiente para ela funcionar bem e os professores demostram satisfação no ambiente. O rapaz pode constatar ainda, que a escola segue um plano de gestão pensada e mantida pelo governo, que costuma ser eficiente em suas políticas públicas para a educação. Muito bom.
Chega o sábado e o moço Pedro Santos decide passear. Juntou a família e a namorada e foi passear nas praias da região norte de seu estado. Sua viagem foi muito tranquila, pois as estradas são perfeitas. Sem buraco, bem sinalizadas. Trânsito, não existe. Na praia, muita diversão. No final do dia todo o lixo gerado no lazer foi descartado nas lixeiras seletivas que existem em centenas nas principais praias do estado. Na volta, tudo aconteceu com a mais perfeita tranquilidade.
Já próximo de casa, Pedro avista uma senhora tentando atravessar a estrada. Sem pensar duas vezes, ele para e sinaliza gentilmente para que a senhora passe. O gesto dele foi copiado por todos os carros que lhe seguiam, todos demostrando paciência e satisfação em atender a simples necessidade da idosa.
Ao chegar, percebe que seu bairro é constantemente patrulhado pela polícia, embora as taxas de criminalidade sejam baixíssimas, pois com uma forte indústria e comércio crescente, seu país mantém a desigualdade social muito pequena e uma distribuição de renda equilibrada, inibindo a criminalidade e a ociosidade. Sente-se extremamente seguro.
Pedro é patriota, não pensa em sair do seu país. Não vê a necessidade de sair de um lugar onde as coisas funcionam tão bem ao ponto de outras nações copiarem os exemplos de sucesso. Ele argumenta que não se trata de ser um lugar perfeito, mas de um lugar onde se busca a completude social, a justiça, a igualdade e, acima de tudo, a valorização da dignidade humana. Ele tem orgulho de ter nascido neste lugar, o Lisarb. O Lisarb é o país dos seus sonhos, tudo que ele sempre quis, não tem como não ser feliz aqui. Ele se diz completo, e não esconde isso de ninguém. Mas depois Pedro acordou.



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