As ruas estão cheias. Pessoas vão, pessoas vêm, todas alimentando-se da diversão que lhes é deliberadamente oferecida no período de carnaval. Muita diversão, sem dúvida. Eis um momento em que esquecer dos problemas da vida é uma questão decisiva para poder se integrar de modo efetivo na alegria carnavalesca.
Não há nada de errado com isso, certo? Sim e não. É possível dizer que a alegria que brota das festas populares do carnaval, tão ansiosamente esperada por muitos brasileiros, é condicionada à "liberdade" presente no seios dessas festas. Como assim? O momento proporciona uma desinibição que em outras épocas do ano seria talvez encarada como inapropriada. Temos então uma diversão, que depende de uma alegria, que é condicionada por uma época do ano. Trágico.
Embora o carnaval possua seu lado cultural, a maior dose de sua prática está ligada ao esgotamento de uma diversão hedonista, puramente centrado no usufruto de prazeres imediatos. Parece não haver regras para comer, beber, beijar e principalmente transar. A desinibição mencionada anteriormente se manifesta na ausência de certos regramentos morais que existem para limitar comportamentos. O não-limite seria então a única regra do carnaval.
Este texto pode até soar como moralista, mas não o é. A crítica na verdade não é ao carnaval em si, pois na sua dimensão cultural, pode preservar símbolos com significados importantes para a sociedade. O que analisamos e criticamos é o valor que lhe atribuído, quando se evoca a diversão e o usufruto de prazeres imediatos como sua principal característica. Surge então a pergunta: por que deveria me esgotar em quatro dias se tenho mais 361 para ser feliz? Qual o valor que tais "exageros" podem trazer ao indivíduo? O que o não-regramento pode ensinar a sociedade que precisa de regras para existir? Esta liberdade não seria na verdade reflexo de uma prisão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário