sexta-feira, 11 de março de 2016

EPICURISMO PARA OS NOSSOS DIAS

Epicuro (341-270 a.C.)
O século XX e o atual são palco de muitos avanços que mudaram os hábitos das pessoas de uma maneira nunca vista antes. De uma sociedade já industrial, mas ainda recatada do século XIX à sociedade do consumo e dos serviços do século XXI, vimos como o homem é capaz de reorganizar sua existência material, social e política. Percebemos ainda como pode produzir conhecimento numa escala astronômica, o que efetivamente só contribui com sua evolução nos aspectos já considerados. Embora estas questões ligadas à evolução do homem sejam em si dignas de aprofundamento, nossa proposta é refletir sobre outra questão: existe algo que orienta o homem atual no sentido de encontrar significado para sua vida?
Bom, para podermos nos posicionar em relação a esta questão, precisamos entender as circunstâncias que envolvem o homem moderno. Mais ocupado, mais ligado à aparência, mas seduzido pelos valores materias, este homem tem se esbarrado em algo que, embora já existisse em séculos passados, hoje está significativamente mais presente: a falta de sentido, de razão de ser da vida. O homem tem tudo, mas vive com a sensação existencial de que não tem nada, e isto acontece, pois a evolução material e social do homem não foi acompanhada pela necessidade de encarar o aspecto transitório da vida. Em tese, o mal do homem atual é não saber encarar seu estado de transitoriedade.
Voltando à Grécia antiga, podemos encontrar uma proposta filosófico-moral para encarar esta questão e pensar sobre uma possível razão para a existência. Criado por Epicuro de Samos (séc. IV a.C.), o Epicurismo tem como eixo central a busca dos prazeres moderados como fonte da felicidade e da tranquilidade. Esta busca, concentrada no equilíbrio e no afastamento de tudo que cause a dor, contrasta com a maneira como muitas pessoas vivem em nossos dias. O equilíbrio consiste basicamente na busca racional por um prazer que não seja apenas transitório, mas pelo prazer do intelecto, o prazer do espírito, algo que de certo modo explique o “porquê” da existência humana.  Epicuro propõe ainda que não devemos temer a morte, pois assim não teremos nossa felicidade “delimitada” pela angústia gerada por este medo.
De compreensão simples, a filosofia epicurista se constitui um caminho básico para aquilo que, para muitos, é a razão de se viver: a felicidade. O homem moderno, embora concentrado em buscar significado para a sua vida nos atos de consumo, na manutenção da aparência, no usufruto dos prazeres sensoriais, (embora estes em escala superior a necessária para o equilíbrio, podem trazer dor em vez de prazer) não consegue tornar a angústia do não-significado da vida menor.
É preciso ter em mente que a vida deve ser vivida em função do aqui e agora, não num viés de irresponsabilidade, mas numa perspectiva de “aproveitamento” do tempo, acerca do qual temos conhecimento de sua irreversibilidade.  A proposta epicurista, então, estabelece-se como uma possibilidade de avanço em relação à angústia mencionada. Viver se trata de uma prioridade, usufruir moderadamente do que a vida oferece é uma necessidade, pois isso, segundo o pensador em apreço, levará o homem ao estado de ataraxia, ausência de perturbação.
Se a vida é curta e ainda assim muitas vezes seu significado não é encontrado, se concentrar em viver talvez seja uma maneira, digamos que racional, de no desenrolar da mesma, o seu significado vir a florescer.


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