Quem disse que não existe máquina do tempo?

Todo homem tem uma história. Toda história tem momentos bons e momentos ruins, podendo a balança pender para um dos lados de acordo com as circunstâncias que envolveram a vida de cada um. Contudo, uma história é uma propriedade, é um bem. Pode ser contada, ilustrada, ensinada, debatida e visitada. Visitada? Sim, visitada! Venha comigo e eu explicarei.

A sensação de que alguma coisa ficou para trás sem ter sido devidamente aproveitada é algo presente na vida de muitas pessoas, não há dúvida. Esta sensação gera angústia em alguns, em outros desesperança, em outros ainda, perturbação. Mas o interessante é que em outros gera vontade de viajar. Viajar pelo tempo, diria.

Tive uma infância incrível. Não tive liberdade absoluta para fazer o que quisesse, entretanto não fui privado das novidades que minha época proporcionou. Tive que, diariamente, esperar até às 16 horas pela concessão paterna (que nem sempre dava) para brincar na rua, mas não fiquei de fora da "onda de xadrez" que passou pelo meu bairro naquela briosa década, a década de 90, no seu final.

Coisas incríveis aconteceram comigo: empinei pipa, brinquei de "sete pedras", subi nos cajueiros do quintal de casa para ficar olhando o movimento da rua, namorei com uma menina sem ela saber, joguei muito vídeo-game, muito mesmo. Zerei Mário World algumas dezenas de vezes, quase quebrei meu Nintendo quando não consegui avançar nas difíceis fases do jogo do Mogli e aluguei cartuchos nos finais de semanas, muitas vezes, por sinal. Mário Kart e Donkey Kong Country 2: Diddy's Kong Quest eram meus preferidos. Passar os finais de semana jogando com os meus irmãos era algo ímpar. Ainda mais quando lá fora, caia aquela chuva suave, dando uma umidade prazerosa ao ambiente.

Viver estes momentos foi importante para a construção da minha identidade, da minha vida adulta. A consciência de que tive uma saborosa infância me faz ser sensível à necessidade de ter uma vida adulta de igual modo prazerosa. Porém, ainda que satisfeito com o período pueril de minha vida, a saudade dele ainda é profunda. Um tipo de saudade que às vezes bate tão forte que tenho que pegar uma máquina do tempo, um tipo diferente de máquina do tempo...a canção Stickerbrush Symphony, do já referido game Donkey Kong Country 2: Diddy's Kong Quest.

Quando ouço esta canção consigo viajar no tempo com meus pensamentos, consigo ter de novo a sensação de proteção daquelas manhãs e tardes nubladas em família, consigo ainda ver o sorriso de meus amigos e amigas cujas maiores ambições eram poder brincar até a noite cair e se sujar o quanto pudessem. A minha máquina do tempo é eficiente. Ela me faz viajar para um tempo que aproveitei bem, me ajuda a ter certeza que eu tive a melhor das infâncias. Me faz perceber que eu tenho uma história e que esta compõe tudo que sou e tudo que pretendo ser. É um tipo de riqueza que não se deve perder.

A canção que funciona como máquina do tempo para mim carimbou na minha alma lembranças desta fase incrível de minha vida, a infância. Quase todos os dias a ouço e sempre que ouço viajo, e sempre que viajo, pergunto: quem foi o tolo que disse que não existe máquina do tempo?

Autor: Líniker Santana

Observação: Abaixo está o link da canção (trilha musical) que é a minha máquina do tempo:

https://www.youtube.com/watch?v=73n7HTcmb5g