domingo, 3 de junho de 2018

O paradoxal jeito do ser brasileiro

     
Fico impressionado como nós, cidadãos brasileiros, somos paradoxais. Para lá de impressionado fico como a nossa capacidade de se eximir de certas responsabilidades civis que se apresentam diante de nós com intenso clamor de engajamento coletivo. Pensando sobre este grande problema que possui raízes profundas, convido você a ler este pequeno texto e refletir comigo.

O assunto dos últimos dias foi a greve dos caminhoneiros, todos viram. Muitos veredictos foram construídos sobre a greve em si, outros ainda sobre o governo e outros contra os outros. Contra os outros? Sim, veredictos contra qualquer outro que não seja você mesmo. Criticamos os caminhoneiros que pararam e deixaram de trabalhar para reivindicar mudanças no valor do diesel, criticamos o governo que julgamos insensível diante da situação caótica do nosso país, criticamos o nosso vizinho por que abasteceu o carro mesmo com o valor altíssimo da gasolina, para não poder ficar sem ter como levar seu filho deficiente mental para o tratamento contínuo. Criticamos a todos, por diversos motivos, só não a nós mesmos que só sabemos criticar. Só falamos, só postamos, só dizemos, só achamos. Só vemos e para completar assistimos a notícia do que está acontecendo pelo mesmo canal que criticamos ao dizer que é manipulador, falsário e cúmplice do governo. Vemos e nada fazemos.

Assim sou eu, assim é você, assim são milhões de brasileiros. Criticamos várias coisas, mas dificilmente agimos de modo efetivo para buscar alguma mudança. Queremos uma revolução que tenha como força motriz as palavras, queremos ver os outros revolucionarem e sermos beneficiados pela mudança que pode vir, desejamos que as coisas mudem sem que tenhamos um só movimento decisivo no grande tabuleiro social. Esse é o paradoxo do ser brasileiro. É não entender o senso de coletividade, é ajustar o mundo à sua própria vida de modo que tudo o mais exploda! É viver em uma bolha social, ver os outros existirem sem a mínima dignidade e assistir de camarote apenas incomodado com palavras pelo que está acontecendo, mas sem nenhuma intensão de levantar e fazer algo verdadeiramente útil para  outros.

Eu sou assim, mas não quero ser assim. Diante disso tudo penso que o primeiro passo na direção certa para uma cidadania não-hipócrita é reconhecer que é um hipócrita. É admitir este paradoxo entre o criticar e o nada fazer. É ver além do que mostram e sentir além do que estimulam. É querer e fazer algo, nem que seja a substituição dos flocos de milhos pelo feijão ou arroz na hora que ajudar alguém que bate em minha porta. É começar a mudar as pequenas coisas da vida que são reflexos deste incômodo paradoxo sem esperar que os outros façam primeiro. Iniciar toda e qualquer mudança com crítica sustentável e intelectual, apresentando bons argumentos, é sinal de inteligência; apenas criticar, ainda que com bons argumentos, é sinal da mais desvelada burrice e velada mediocridade.

Se continuarmos a fazer manutenção do paradoxal jeito de ser brasileiro, jamais mudaremos. Sei que você poderia perguntar: "E você, o que fará, caro autor?". Bom, eu diria que já dei um grande passo: reconheci minha hipocrisia e admiti a necessidade de mudar. Não espero a mudança dos outros, mas serei eu mesmo o que tanto sonho para a sociedade.

Autor: Líniker Santana
     

6 comentários:

  1. Concordo plenamente, buscamos sempre a zona de conforto e nessa condição fazemos o que fazem os parasitaseus. Vivemos a síndrome da sanguessuga e ficamos na expectativas por novas mudanças.

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  2. Vc é uma benção, como sempre trazendo conhecimento. Deus abençoe meu amigo

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  3. Parabéns pelo excelente texto reflexivo, acredito que diante de tão fortes argumentos levantados por vc nobre Liniker, fazer acontecer o melhor na vida das pessoas passa primeiro por uma mudança pessoal, que envolve atitude, respeito ao diferente, solidariedade e acima de tudo amor.

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  4. O auto-conhecimento sim, leva a evolução do ser e reconhecer essa hipocrisia faz com pensemos antes de cometer algum ato imoral aos nossos princípios, mas vejo também que essa dispersão do coletivo não é só fruto de nossa cultura, isso que nos é passado e é isso que nós vemos. Nosso "modus operandi" é sermos indivíduos fortes e frágeis como unidade, seja nos interesses (levianos) ou em nossa força de mudança, a falta de engajamento, a omissão dos populares: Por desconhecimento ou por comodismo, reflete na forma como vivemos. Ótimo texto Professor!

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  5. Enquanto houver pessoas que acreditem e lutem pela mudança um dia ela Acontecerá (Vivian(

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