terça-feira, 15 de junho de 2021

Paternitas

A "paternitas", paternidade, é um mistério. E mistérios são difíceis de explicar. Às vezes são inexplicáveis. Mas, vale a tentativa. Este texto é uma breve crônica de minha paternidade. 

Até a véspera de vinte de março de 2018, eu era apenas o mais velho dos filhos dos meus pais. Apenas um professor, um filósofo ou aspirante a escritor. Da minha esposa, o marido, dos amigos, um dentre eles. Estas definições já não bastam. Hoje, eu sou pai. 

Quando minha esposa me informou da gravidez, um misto de sentimentos invadiu meu coração. Sentimentos que se sucederam, digamos assim. O primeiro deles foi o medo. Ele tomou conta de mim, pois eu não sabia se seria capaz de cuidar de outro ser. O medo gera algumas angústias, mas também nos impulsiona a descobrir mais de nós mesmos. Assim aconteceu. Temendo ser pai, me descobri pai. 

O segundo sentimento foi a expectativa. Tendo já iniciado o processo de internalização da paternidade, meus sentimentos voltaram-se agora para o sexo da criança. Será menino ou menina? Sempre surgem aquelas perguntas que, às vezes, podem soar como inconvenientes: "qual você prefere"?, ou "sabia que menina dá mais trabalho?". Bom, eu tinha expectativas que o bebê fosse uma menina. Mas o motivo é bobo: como minha casa sempre foi de muitos homens e não tenho irmãs, uma menina quebraria esta sequência. Tolice minha. Quando o médico disse que o bebê é do sexo masculino, meu coração  disparou de alegria. Ah, tenho certeza, que se fosse menina, o coração se alegraria do mesmo jeito. Era meu filho, meu primeiro filho.

A ansiedade veio logo em seguida. A barriga crescendo, a esposa perdendo sua disposição, a locomoção diminuindo, exames aqui, exames ali. Toda essa rotina que cumpríamos com zelo só acelerava meu desejo: quero ver meu filho. Cada dia ficava mais perto, mas ao mesmo tempo parecia uma eternidade. Conversávamos: "como será o rostinho dele?", "ele puxará mais a quem?", perguntas típicas de pais novatos. 

Quando o dia chegou, peguei meu garoto nos braços e senti uma alegria singular. Senti-me porto, pois antes só era navio. Senti-me sombra, pois antes era apenas aquele que nela se refugiava. Meu filho é parte de mim e naquele momento descobri que, na brevidade da vida, existem coisas que nos fazem sentir eternos. A paternidade é uma delas. Não a biológica apenas, mas a genuína, aquela que é real, do coração, da alma.

Ser pai me ensinou e me ensina diariamente muita coisa, como reencontrar a minha própria infância, ao brincar com o meu garoto, ver a vida de maneira mais leve e, é claro, priorizar o que é mais importante na vida: viver.

Hoje meu filho é um garoto brilhante. Recebe atenção, beijos e, como qualquer outra criança, é corrigido, quando precisa. Mas, não consigo me arrepender e se pudesse, não iria querer, pois as dificuldades de ser pai são muito menos densas que a grandeza e a nobreza de acordar com um ser tão sincero e puro te dizendo com a doçura típica de uma criança: te amo papai. 

Autor: Líniker Santana




3 comentários:

  1. Tenho que deixar registrado que uma lagrima me escorreu em cada parágrafo.
    Tenho certeza que daqui alguns anos, quando ele ler isso aqui, vai se emocionar muito mais.
    Texto brilhante

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  2. Uma experiência incrível. Excelente texto. Parabéns, papai!

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