Eu gostei do lugar a começar pelo número da rua: cento e onze. Hoje me parece bobagem, mas a ideia de morar numa rua cuja identificação era três números iguais me trazia um certo fascínio. Sempre gostei de números, mas não o suficiente para ser bom em matemática. Durante todo o tempo que morei neste lugar, o número cento e onze me foi interessante.
As árvores eram abundantes naquele lugar. Lembro-me que quase todas as casas da rua tinham um pé de jambo no quintal. A nossa era uma delas. Na época desta fruta, tínhamos para "dar e vender", mas se perdia, pois todos também tinham para "dar e vender". Havia uma áurea especial ali.
Eu e meus irmãos formamos algumas amizades muito rápido. Conseguimos nos identificar com os dois garotos que moravam em frente, filhos de uma senhora cristã. Lembro-me que meu irmão caçula foi o que mais se afeiçoou da amizade, pois a faixa de idade deles era semelhantes.
Cada dia tinha um enredo especial, porém bem simples: estudar e brincar. Estudava a tarde, era aluno da Tia Rosilda e o último a sair da escola, pois a professora fazia questão que eu lesse o maior texto do livro, como requisito para largar. Na escola aperfeiçoei a leitura, a escrita e o gosto pelo pensamento. Acho que já ali algumas raízes de um "eu" mais filosófico eram lançadas.
Neste lugar aprendi a empinar pipa, jogar xadrez, dominó e a fazer amizades com pessoas mais velhas. Neste lugar aprendi a subir em árvores mais altas, andar sobre o muro e descer na mata atrás de pipas cortadas em disputas regadas à cerol do brabo, aquele que cortava até pescoço.
Ali chorei quando o Brasil perdeu da França na final da Copa do Mundo de 1998, assisti Ratinho e ganhei um Super Nintendo. Foi ali que zerei meus games preferidos, me descobri adolescente e me apaixonei. Ah, me apaixonei por uma moça que sequer sabia que eu existia, mas me apaixonei.
Este lugar incrível tinha rua asfaltada, muitas crianças e uma grande mata ao final. Tinha a Mônica, tinha o Kleiton, tinha o Miquéias, o Jefinho e o Robinho. Todos crianças ou pré-adolescentes, todos felizes. Sim, uma felicidade que se traduzia em gargalhadas e conversas jogadas fora.
O Jefinho, que era meu vizinho de parede, torcia fanaticamente pelo Santa Cruz. Seus pais, tios e amigos, jogavam dominó toda noite, era uma festa. Enquanto eu, meus irmãos e meu pai assistíamos Ratinho na TV, ouvíamos as batidas nas peças de dominó na mesa. O barulho já fazia parte da natureza do lugar, pelo menos para mim. Sem ele, alguma coisa faltaria.
O lugar para mim era mágico, sempre pensei assim. Mas, em que consistia a mágica de Caetés 1, em Abreu e Lima, Pernambuco? Consistia na leveza, pureza e inocência. A mágica, na verdade, não estava no lugar, estava em mim. Eu estava descobrindo o mundo, rompendo com a infância, flertando com a adolescência. Tudo era novo e isso me encantava. As sensações daqueles dias me parecem tão reais hoje!
A verdadeira mágica estava em mim, pela entrega aos novos saberes que a vida estava me oferecendo. O lugar foi o cenário perfeito, as pessoas personagens incríveis. Os dias, maravilhosos. Mas eu era o cerne da questão. Conhecer era meu impulso, meu encanto.
Tal qual o encanto que me preencheu a mente e o coração na tenra idade, deve ser o nosso encanto pela vida, pela razão, pelo saber. O filósofo deve ser como uma criança no perguntar, como um sábio no responder e como um herói no viver. Por que herói? Por que estará sempre se resgatando de si mesmo, evitando que mente e corpo sejam entregues ao incolor medo de ser feliz.
Você é a mágica de sua felicidade, eu sou da minha. Vivamos o sonho da leveza, do querer viver e ser feliz!
Autor: Líniker Santana
AMEIIIII 😍, parte 2 pfvrrrrr 🙌🙌🙌🙌
ResponderExcluirFiquei tão presa na leitura quanto quando estou lendo comédia romântica ksksskksks 👏👏👏👏
ResponderExcluirMagnífico, amei ����������
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