domingo, 7 de agosto de 2016

QUEM É MAIS FELIZ? Uma análise das disputas virtuais


    Nas poucas vezes em que "passeio" pela linha do tempo da minha conta do Facebook, tenho a sensação de que estou presenciando uma disputa. Na verdade um tipo de disputa que lembra aquelas batalhas de rappers dos Estados Unidos. Por isso resolvi escrever este pequeno texto para refletir sobre os efeitos destas disputas nos indivíduos. Desafio você a refletir comigo.
    É comum que as pessoas pensem que a vida alheia seja melhor, mais divertida e mais feliz que a sua. Esse sentimento não é novo. Na verdade ele sustenta um outro sentimento tão antigo quanto o homem: a inveja. Acreditar que o outro é mais feliz, pode, e deve ser identificado como passo inicial para alimentar a inveja.
   Haja vista vivermos em uma sociedade tão complexa e cheia de oportunidades de interação, sobretudo virtualmente, o desenvolvimento do sentimento já mencionado foi potencializado. Mas do que pensar que a vida do outro é encantadora, você pode compará-la diariamente com a sua através das redes sociais, fenômeno deste início de século. O problema real que analisarei começa aqui.
    Primeiro: quando um indivíduo acompanha a vida de alguém em uma rede social, acompanha aquilo que este alguém quer que seja visto. Há uma ocultação do que a realidade de sua vida. Não se vê a vida do outro em sua plenitude, como os deméritos e as circunstâncias não tão divertidas assim. O problema é que o indivíduo que vive a comparar a sua vida com a do outro via mundo virtual, sempre abre mão da racionalidade de perceber que aquilo que vê pode ser bem diferente, bem superficial. Isto é um problema, pois tende a não ficar apenas no plano da frustração interior. Muitas pessoas desenvolvem complexo de inferioridade ou depressão por verificar que sua vida é tediosa diante das movimentadas vidas midiáticas que acompanha. O problema não para por aqui.
     Como cada pessoa possui sua subjetividade, e cada uma interage com o que vê de uma forma distinta, também é comum que alguns indivíduos não se frustrem e não desenvolvam uma depressão. Contudo, desenvolvem algo tão nocivo quanto: a ansiedade. A ansiedade que desenvolvem é caracterizada pelo impulso interior em fazer frente à "vida feliz" do outro. Ele não quer ficar "por baixo" e então começa a disputa. Uma briga virtual (e não formalmente declarada) é iniciada. Esta disputa pode ser percebida quando algumas pessoas passam a medir seu status de satisfação por uma experiência particular quando isso é "postado" em uma rede social. Uma rodada de pizza com os amigos só será boa se fotos do momento invadirem tais redes. Sem as fotos, sem o registro disso, o encontro não terá o mesmo sentido. É claro que muitas pessoas que registram seus encontros e divulgam nas redes sociais não sofrem de ansiedade. Mas, quando a qualidade de um momento for medido pelo o "ibope" que isso vai dá, então temos um problema.
    Como esse fenômeno é mais comum entre os jovens, pois são eles que se relacionam mais pelas redes sociais e ficam mais tempo na Internet, outros problemas correlatos surgem a partir deste. Ao ficar comparando a vida, o jovem, ou qualquer indivíduo, gasta muito tempo nesta tarefa. Existem pessoas que, mesmo com demandas urgentes e tarefas inadiáveis, preferem ficar a analisar como foi o final de semana de alguém e a curtir e analisar foto por foto. Resultado disso: problemas na escola, no trabalho, baixo rendimento, etc.
    Embora esta análise não seja novidade, pois o problema é muito claro, proponho algumas dicas racionais para lidar com ele:

 1 - Tenha a consciência que as pessoas só mostram momentos que julgam serem melhores. Mas não esqueça: onde há boas experiências, há más experiências. Onde há sorriso, há choro.

2 - Reconsidere suas prioridades. Será mesmo necessário saber o que o outro faz? Se alguém tem do que se orgulhar e divulga isso, tudo bem. Se orgulhe de saber o que é importante na sua vida.

3 - Se você se sente inferior quando alguém divulga nas redes sociais imagens de momentos divertidos, reflita: o que é diversão para mim? Se fizer isso, perceberá que seu gosto pode ser bem diferente e que sua vida não é tediosa, mas apenas um outra vida que não precisa se autenticada por ninguém, além de você mesmo. Perceberá que a maneira que se diverte pode produzir a mesma sensação de felicidade. 

4 - Diminua o tempo nas redes sociais e aumente o tempo com os livros. Garanto que ao ler livros você não se frustrará, pois neles não se comparam vidas, se comparam ideias. E ideias movem o mundo.


Autor: Líniker Santana
    

4 comentários:

  1. Ótima análise, mostra como as pessoas esquecem de viver o agora e de sua importância perante aos seus entes queridos.

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  2. Parabéns professor! Gostei muito da reflexão. Liniker Santana é o melhor professor de Filosofia!

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