Eu sou Matias, tenho 21 anos, todos dizem que estou na flor da idade. Conheço muitas pessoas, dou bons sorrisos, procuro demonstrar que sou feliz. Uma certa pressão há dentro de mim que exige atitude em relação a isso: não posso não sorrir, pois não sorrir é para mim, no âmago de minha alma, um sacrilégio. Busco me convencer todos os dias que é assim apenas por que deve ser assim.
O problema é que nem sempre consigo emplacar a certeza que eu tanto desejo. As dúvidas sobre minha própria felicidade invadem meu cérebro e todo meu esforço para arrebatá-las se caracteriza inútil. Quando estou agindo de modo que meus sorrisos revelem aos outros a minha felicidade, o meu interior é invadido por perguntas que me desequilibram e por medos que eu achei que não existiam. Se isso acontecesse uma ou duas vezes, eu poderia acreditar que se tratasse apenas de uma pequena porção de dúvida para que eu valorizasse mais as minhas certezas, a exemplo do efeito que causa em nós adoecer para valorizar a saúde, mas as tais dúvidas não me atormentam uma, duas ou dez vezes, elas parecem fazer parte de mim, constituir um certo grau de minha existência.
Tenho me dado conta ultimamente que estas coisas não apenas me incomodam, elas me atormentam. Não tenho conseguido o equilíbrio que tanto acreditava ser capaz de manter em minha existência. Estou sentindo que existe outro timão no barco de minha vida que não sou eu quem conduzo, do qual não sou o capitão. Se eu não for, quem o será?
Tenho apenas 21 anos, não deveria ter consciência disso tudo. Deveria estar vivendo a nobreza de minha idade, deveria curtir os prazeres da minha vida, de maneira epicurista, talvez. Deveria beijar moças, sentir-lhes os lábios açucarados, ir ao cinema e ver as estreias com uma dessas ruborosas senhoritas. Deveria, deveria, deveria, mas não faço. Por quê? Por que não consigo! Diacho! As tais invasões, o tal desiquilíbrio!
Julgo estar em uma espécie de prisões sem grades. Estou aprisionado em dúvidas. Não daquelas que meu mestre diz serem importantes por serem filosóficas, porém daquelas que me desestruturam, me fazem sentir que não sou feliz, que não sou o que sou, que estou apenas em uma fantasia, ocupando uma existência diferente da que tanto almejo ter. Eu estou na flor da idade! Mas esta flor não exala o aroma que eu sonho! Mas a sua beleza não representa o que desejo secretamente. Meu esforço para manter o equilíbrio, a aparente felicidade só está me seduzindo a mais profunda contradição!
O que fazer, o que ser, o que sentir? Não sei. Tentei ignorar, não deu certo. Encarar, talvez. Preocupo-me apenas com a minha energia e vigor para esta acariação. Penso que meu grau de desiquilíbrio interno minou as minhas forças. Contudo eu ainda consigo sorrir. Ainda faço as pessoas pensarem que sou feliz, condutor de mim mesmo, autor de minhas escolhas. Duas escolhas tenho talvez. Apenas acho, não tenho certeza. Posso continuar a fingir que sou feliz do jeito que sou e viver assim até que entre em um colapso existencial que poderá me desfazer de maneira dramática. Posso me esconder por trás dos sorrisos, enganar pessoas, ensiná-las a felicidade que não tenho, expor a doçura que não possuo, ser o que não sou. Ou posso usar as últimas energias deixadas pela contradição interior e viver a minha vida. Só tenho ela, apenas ela.
Mas e as pessoas, o que elas pensarão? O que elas dirão de mim? Como elas me virão? "Você Matias?", dirá aquela senhora que tanto prestigiava meu suposto autocontrole. "Por que agora?", dirá a moça da esquina por quem nutro certa admiração. Não tenho respostas para elas. Penso que estas respostas não existem, entretanto, elas podem ser construídas. E as construíveis respostas são simplesmente complexas, com o perdão do paradoxo. Apenas quero ser o que sou! Livre do "eu" deles para ser o meu "eu"! O Matias que chora quando está com vontade, o Matias que diz o que pensa, que erra, que brinca, que sorrir. Que sorrir? Sim, sorrir quando quer, quando sente vontade, não quando as circunstâncias exigem! Liberdade é o que mais quero, liberdade é o que busco e eu já sei onde encontrar. Onde? Em mim mesmo. Onde acaba meu medo de parecer triste nasce minha certeza que posso ser feliz. Assim pode ser, assim é, assim será.
Por isso eu digo: eu sou Matias, tenho 21 anos, todos dizem que estou na flor da idade. Conheço muitas pessoas, dou bons sorrisos, procuro demonstrar o quanto me tornei feliz depois que me libertei da prisão sem grades, as massacrantes aparências. E sabe o que é mais emocionante: as chaves estavam dentro de mim. Vasculhe-se, ache as chaves do seu ser e seja o que é, seja feliz.
Autor: Liniker Santana
Por isso eu digo: eu sou Matias, tenho 21 anos, todos dizem que estou na flor da idade. Conheço muitas pessoas, dou bons sorrisos, procuro demonstrar o quanto me tornei feliz depois que me libertei da prisão sem grades, as massacrantes aparências. E sabe o que é mais emocionante: as chaves estavam dentro de mim. Vasculhe-se, ache as chaves do seu ser e seja o que é, seja feliz.
Autor: Liniker Santana

Profundo!
ResponderExcluirA casca deve está alinhada com o conteúdo do núcleo para se alcançar no mínimo a satisfação pessoal.
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