domingo, 23 de dezembro de 2018

Uma cena inesquecível

O ano é 1998. O lugar é um bairro bem arborizado chamado Caetés, na cidade de Abreu e Lima, Pernambuco. A ocasião é a minha despedida daquele bom e inesquecível lugar. Tudo que aconteceu naquela bela tarde de sábado insiste em não sair de minha cabeça justamente pela relevância que aquele momento tem para a trajetória da minha vida.

O meu pai escolheu a tarde de dezenove de dezembro de 1998 para materializar a nossa mudança do estado de Pernambuco para Alagoas, onde até hoje resido. Tudo que sou e faço tem reflexo desta decisão de mudança geográfica, pois me fez encontrar pessoas incríveis e me ajudou a construir a visão de mundo que tenho hoje, além de me permitir o contato com a Filosofia, mediante bons professores que tive no ensino médio. E isso foi bom. Contudo, não posso dizer que as sensações que tive naquele tarde de despedida foram boas.

Imagine você aos doze anos perdendo tudo que achava que tinha. Sim, a sensação de perda foi que me possuiu naquele momento. Após o caminhão de mudança ter partido levando os nossos pertences, chegava a hora de nós mesmos partirmos para nunca mais voltar. Com exceção de meu pai, todos demostravam certo pesar em deixar aquele local que trouxera tão boas experiências. Mas era necessário partirmos, pois meu pai tinha sido transferido na empresa que trabalhava para assumir um posto de maior responsabilidade na capital alagoana.

Quando foi dada a partida no carro, imediatamente eu e meus irmãos voltamos o nosso olhar para o vidro de trás e a inesquecível cena que insiste em me envolver com aquela tarde de sábado surgiu: ao fundo meus amigos pulando corda, outros em cima das calçadas brincando de amarelinha, outros ainda em cima dos muros soltando pipa, uma atmosfera de infância da qual eu me distanciava naquele exato momento. Na medida em que o carro acelerava, eu via a rua pela última vez, as casas onde estavam vizinhos de quem tão logo eu esqueceria os rostos, os jamboeiros que tanto explorei ficando para trás. Não deu para esconder minha tristeza. Parecia que minha infância estava acabando ali, pois tudo que eu queria e gostava estava ficando para trás. E ficou.

Não sei o impacto deste dia nos meus irmãos. Talvez por serem menores, não conseguiram perceber os efeitos mais complexos de uma mudança, mas com certeza lembram-se daquela tarde com algum tipo de nostalgia, pois também viveram excelentes experiência lá.

Embora possua este grau de saudosismo, não me considero alguém que viva preso no passado. Pelo contrário, sou alguém que vive o presente, deseja o futuro, mas sempre olha o passado para ver o que tem de bom para ajudar na significação do presente e do futuro. A cena de tudo se distanciando para nunca mais voltar se concretizou, pois de fato nunca mais vi um sequer dos amigos que ali deixei. Certamente estão casados, possuem filhos, pois todos já têm mais de trinta anos a esta altura. Talvez nem se lembrem de mim. Talvez lembrem. Não dá para saber. O que sei é que há vinte anos ouço o barulho das crianças brincando, numa infância que para mim parece não ter fim.


Autor: Líniker Santana

4 comentários:

  1. Muito lindo professor eu voltei ao passado da minha infância. Obrigada por esse momento.

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  2. Que lindo professor! Pude voltar a minha adolescência, ao momento em que parti em mudança. Guardo sentimentos semelhantes aos seus.

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  3. Emoção compartilhada, lindo texto, linda história :)

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