O ano é 1998. O lugar é um
bairro bem arborizado chamado Caetés, na cidade de Abreu e Lima, Pernambuco. A
ocasião é a minha despedida daquele bom e inesquecível lugar. Tudo que
aconteceu naquela bela tarde de sábado insiste em não sair de minha cabeça justamente
pela relevância que aquele momento tem para a trajetória da minha vida.
O meu pai escolheu a tarde de
dezenove de dezembro de 1998 para materializar a nossa mudança do estado de
Pernambuco para Alagoas, onde até hoje resido. Tudo que sou e faço tem reflexo
desta decisão de mudança geográfica, pois me fez encontrar pessoas incríveis e
me ajudou a construir a visão de mundo que tenho hoje, além de me permitir o
contato com a Filosofia, mediante bons professores que tive no ensino médio. E
isso foi bom. Contudo, não posso dizer que as sensações que tive naquele tarde
de despedida foram boas.
Imagine você aos doze anos
perdendo tudo que achava que tinha. Sim, a sensação de perda foi que me possuiu
naquele momento. Após o caminhão de mudança ter partido levando os nossos
pertences, chegava a hora de nós mesmos partirmos para nunca mais voltar. Com
exceção de meu pai, todos demostravam certo pesar em deixar aquele local que
trouxera tão boas experiências. Mas era necessário partirmos, pois meu pai tinha
sido transferido na empresa que trabalhava para assumir um posto de maior
responsabilidade na capital alagoana.
Quando foi dada a partida no
carro, imediatamente eu e meus irmãos voltamos o nosso olhar para o vidro de
trás e a inesquecível cena que insiste em me envolver com aquela tarde de
sábado surgiu: ao fundo meus amigos pulando corda, outros em cima das calçadas
brincando de amarelinha, outros ainda em cima dos muros soltando pipa, uma
atmosfera de infância da qual eu me distanciava naquele exato momento. Na
medida em que o carro acelerava, eu via a rua pela última vez, as casas onde
estavam vizinhos de quem tão logo eu esqueceria os rostos, os jamboeiros que
tanto explorei ficando para trás. Não deu para esconder minha tristeza. Parecia
que minha infância estava acabando ali, pois tudo que eu queria e gostava
estava ficando para trás. E ficou.
Não sei o impacto deste dia nos
meus irmãos. Talvez por serem menores, não conseguiram perceber os efeitos mais
complexos de uma mudança, mas com certeza lembram-se daquela tarde com algum
tipo de nostalgia, pois também viveram excelentes experiência lá.
Embora possua este grau de
saudosismo, não me considero alguém que viva preso no passado. Pelo contrário, sou
alguém que vive o presente, deseja o futuro, mas sempre olha o passado para ver
o que tem de bom para ajudar na significação do presente e do futuro. A cena de
tudo se distanciando para nunca mais voltar se concretizou, pois de fato nunca
mais vi um sequer dos amigos que ali deixei. Certamente estão casados, possuem
filhos, pois todos já têm mais de trinta anos a esta altura. Talvez nem se
lembrem de mim. Talvez lembrem. Não dá para saber. O que sei é que há vinte
anos ouço o barulho das crianças brincando, numa infância que para mim
parece não ter fim.
Autor: Líniker Santana
Autor: Líniker Santana
Muito lindo professor eu voltei ao passado da minha infância. Obrigada por esse momento.
ResponderExcluirMuito bonita dua história
ResponderExcluirQue lindo professor! Pude voltar a minha adolescência, ao momento em que parti em mudança. Guardo sentimentos semelhantes aos seus.
ResponderExcluirEmoção compartilhada, lindo texto, linda história :)
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